Recapitulando rapidamente a parte 3:
Definimos nome definitivo e um logo provisório
Teste alfa estava rodando com conhecidos
Participamos de uma incubação de 1 semana na UFRJ
Fomos rejeitados na Aceleração da ACE
No fim, eu falei uma startup de sucesso costuma ter 3H. O Hacker, O Hipster e o Hustler.
No Real Valor, a gente tinha 2 Hustlers.
Vamos pra parte 4.
Não dava para ficar com o logo do Alfa. Era Rexona demais, lembra?
De tempos em tempos eu e Gabriel tirávamos algumas horas para viajar. Como deveria ser o logo?
Quais cores? Quais elementos?
Um dos rascunhos insanos que fizemos.
Decidimos que precisava ter um mascote.
Foram algumas ideias: abelha, cachorro, pássaro.
Decidimos que seria pássaro por motivos de: não aguentava mais ficar pensando nisso e decidimos um aleatório.
Depois, pensamos numa explicação plausível: "O pássaro alimenta suas crias para que possam crescer de forma saudável. O investidor é o pássaro e sua cria é seu portfolio. Precisa alimentar e cuidar para que possa crescer".
Mas não se engane. A gente só foi pensar nessa explicação algum tempo depois de ter definido o mascote.
Escolhemos a arara azul por ser um símbolo brasileiro.
Mas uma coisa é ter um mascote. Outra é ter o logo.
Pensei em fazer um gráfico de pizza para simbolizar a proporção de renda fixa e renda variável da carteira e de alguma forma isso parecer um ninho de arara, com o mascote no meio.
A ideia claramente foi melhor do que a execução
Pagamos um designer para fazer essa ideia num site tipo Fiverr da vida, mas ficou uma merda.
Economizar no designer dá nisso.
Então decidi desenhar eu mesmo. Depois de muito tempo olhando para logos e rabiscando desenhos bizarros, desenhei o que viria a ser o logo.
Tá vendo os detalhes no gráfico para simbolizar que também é um ninho? Pura arte.
Passei horas na internet descobrindo como que faz um logo. O que é vetorização. Como usar o Illustrator.
Até que no fim, tínhamos um logo.
Que cor usar?
O Google tem um guideline de design chamado material design que a gente usava em tudo, para não ter que reinventar a roda. Lá tinham umas 10 cores. A gente teria que escolher cores dali.
Tá. Talvez mais do que 10 cores.
Escolhemos azul e laranja porque o azul trazia a sobriedade da renda fixa e o laranja trazia o calor e entusiasmo da renda variável.
Fugimos de verde e vermelho porque eles são muito atrelados a ganhos e perdas.
Mas não vou mentir: testamos muitas combinações para o logo até chegar no resultado final.
Finalmente tínhamos um logo para usar! (O quarto da segunda linha)
Pode ter parecido uma falha nem mencionar o modelo de negócios do Real Valor até esse momento, mas na verdade não foi.
A gente sempre deu mais foco em fazer o app funcional e MUITO FÁCIL de usar do que fazer dinheiro no primeiro momento.
Como eu tive uma experiência horrível com apps que eu tentei usar antes de decidir fazer o Real Valor, eu sabia que se o app fosse bom e fácil de usar, todo mundo ia usar.
E se todo mundo usasse, fazer dinheiro seria fácil!
Sim, eu sempre fui ingênuo e otimista demais.
Nossa ideia era usar um modelo de negócios como o do Spotify: um plano gratuito com anúncios e um plano pago com funcionalidades melhores e sem anúncio.
Business Model Canvas do começo do Real Valor
Mas se o foco não era fazer receita, surge aquela dúvida como fazer uma startup sem ganhar dinheiro?
Eu e Gabriel tínhamos guardado dinheiro antes de começar o Real Valor.
Lá em janeiro a gente combinou de gastar nosso próprio dinheiro para fazer a empresa dar certo.
O combinado era: estou disposto a gastar 100% do meu dinheiro nisso (mais ou menos R$ 100k cada). Hoje vejo que nenhum empreendedor faz isso. Existe uma indústria chamada de Venture Capital que consiste em pessoas que tem dinheiro e querem investir em ideias inovadoras para viabilizar o projeto e ganhar dinheiro caso a empresa dê certo.
A gente começou sem nada disso. O dinheiro era nosso.
Antes que pense que eu sou um completo maluco, lembra que eu li o 4 hour Work Week do Tim Ferriss? Ele me ensinou que o custo de viver uma vida de arrependimento por não ter tentado empreender seria maior do que esse custo financeiro.
É óbvio que poderia dar errado.
Mas eu estava em paz com esse outcome. O livro do Tim Ferriss tinha me treinado para isso também.
Se desse tudo errado e eu gastasse 100% do meu dinheiro, poderia reconstruir minha vida do zero do conforto da casa dos meus pais. Graças a deus tenho uma família que me acolhe e não tenho ego de botar o rabinho entre as pernas e recomeçar.
Nesse caso, provavelmente conseguiria me recolocar no mercado numa posição melhor do que se ficasse na consultoria por causa da jornada empreendedora.
Resumindo: eu e Gabriel estávamos 100% commited na ideia de tocar o Real Valor. Decidimos colocar todo o dinheiro que tínhamos guardado em jogo para fazer isso dar certo. E a gente não estava focado em fazer dinheiro com o app ainda.
A gente só pensava em fazer o melhor app possível.
O teste alfa foi um sucesso. Vários bugs corrigidos. E mais importante: o app estava tomando forma.
Era chegada a hora de progredir para o Beta.
Caso você esteja meio perdido com esses nomes, me desculpe. Só percebi agora que deveria ter explicado o que era Alfa e Beta antes.
Quando você sobe um aplicativo na Playstore, você tem 3 opções: Alfa, Beta ou Produção.
Alfa e Beta são estágios de teste. Produção é quando o app está pronto. Basicamente todos os apps que você tem no seu celular estão em "produção".
O Alfa é quando o app está numa fase bem inicial e geralmente precisa de convite para conseguir entrar e testar. A gente estava nessa fase até agora.
O Beta, apesar de continuar sendo um teste, acontece quando o app já está num estágio mais maduro. E já não precisa mais de convite para entrar, então a base de usuários se torna maior e mais heterogênea.
Além de ter melhorado bastante o Real Valor desde o alfa, a gente estava trazendo uma novidade para o beta: botão de feedback.
O botão ficava aparente e ao ser clicado aparecia a opção de feedback
A ideia era ter um botão que ficava aparente em qualquer tela do app onde o user poderia clicar e digitar um texto que chegava para a gente. Como agora muitos usuários desconhecidos poderiam baixar o app, a gente precisava ter certeza de que a gente iria continuar recebendo os feedbacks.
Tudo pronto.
Subi a versão nova na Playstore e mudei o status de alfa para beta.
Baixei num celular velho para ver se estava funcionando e me deparei com um pequeno problema.
O botão de feedback simplesmente estava em cima do botão de adicionar investimentos, tornando ele inclicável. Sem o botão de adicionar investimentos, o app era absolutamente inútil.
Sim. O app estava inútil.
Focamos tanto em receber feedbacks que o botão ficou em cima do botão mais importante do app para aparelhos com a tela pequena.
Apesar de ser um problema grave, a solução era simples e como ninguém tinha baixado ainda, escapamos sem vítimas.
Mas mais uma vez foi um indicativo de como essa vida de startup é imprevisível. Quando você acha que está pronto, surge um problema de onde você menos espera.
Uma vez corrigido o problema, era hora de buscar gente para testar.
Mas onde?
A resposta era fácil:
Facebook Groups.
Numa rápida pesquisa no search do Facebook, encontrei comunidades do mercado financeiro com mais de 40 mil pessoas cada.
Comunidade de renda fixa, de fundos imobiliários, de ações.
Mandei msg no privado para cada dono de comunidade explicando o que que eu estava fazendo e que eu queria poder divulgar no grupo. O fato do Real Valor ser gratuito e o approach ser "quero que pessoas usem e deem feedback para eu ir melhorando" ajudou bastante. Todos, sem exceção, liberaram pra eu postar lá e interagir com o pessoal.
Troca de msgs com o dono de 2 comunidades gigantes
Esse foi o início da estratégia de Community-Led Growth do Real Valor. Com alguns detalhes:
Eu nem sabia o que era growth na época.
Muito menos o que era Community-Led
E jamais diria que aquilo que eu estava fazendo era uma estratégia.
Na época, aquilo era apenas uma tentativa desesperada de conseguir botar gente para usar o app e ver se ele estava no caminho certo.
O valor de ter conseguido os primeiros usuários nessas comunidades foi impagável. Todos que estavam ali eram publico alvo do aplicativo. Lá eu pude conversar com eles, perguntar o que estava bom, o que estava ruim, pedir ideias.
Exemplo de um post daquela época.
Quando a gente implementava as ideias, eu voltava lá e mostrava e pedia mais ideias.
Aquele pessoal não estava usando o Real Valor pelo que ele era naquele momento, mas sim pelo potencial que ele tinha.
E esse potencial era mostrado através do relacionamento que eu fui construindo ali aliado a velocidade na implementação das funcionalidades que o pessoal pedia.
Época boa demais.
Essa estratégia de conversar ativamente com os usuários se tornou a maior marca do Real Valor, e talvez a melhor "feature" do app.
A gente não queria só users. A gente queria formadores de opinião de investimentos e finanças que pudessem nos dar feedbacks mais profissionais do que faltava na ferramenta (e talvez nos ajudasse a fazer o app chegar a mais users também).
Fiz uma lista de pessoas que eu achava que poderiam ajudar. Tinha de tudo. De Gustavo Cerbasi e André Bona (os dois escritores que me ensinaram a base de investimentos) até influenciadores como Nathalia Arcuri e Thiago Nigro.
Procurava email de contato e mandava para eles. A mensagem era parecida com a que eu mandava para os donos das comunidades: "Estou fazendo uma ferramenta para ajudar investidores acompanharem o portfolio. Quero feedbacks seus de como melhorar."
A grande maioria não respondeu. Dos que responderam, todos deram alguma desculpa para não se envolver.
Menos um.
André Bona.
Porra... eu tinha aprendido a investir com esse cara. Agora eu estava conversando com ele e marcando um call. É muito louco como muitas coisas parecem distantes simplesmente porque você não tenta fazer.
Achava que o André Bona era inalcançável. E 2 emails mais tarde, marcamos um call.
Caso não conheça o André Bona, ele é um daqueles poucos criadores de conteúdo que não focam em ser polêmicos ou virais. Ele foca 100% no conteúdo. Isso faz com que ele não seja um influenciador de investimentos com milhões de seguidores, mas quem o acompanha aprende DEMAIS.
Conversamos por 1 hora no Skype. Ele deu umas dicas, umas ideias e mostrou algumas dificuldades que teríamos.
Mas mais importante do que as ideias que ele trouxe, aquele encontro foi importante para mostrar que é possível chegar a pessoas que você nem imagina. Só precisa de um pouco de cara de pau, saber "vender o seu peixe" e insistência (não tentei várias vezes com ele, mas tentei com várias pessoas e só ele me atendeu).
Lembra que eu explique o teste alfa, beta e a produção?
Pois então. Um dia eu fui subir uma atualização e sem querer selecionei "produção". Sendo bem sincero, eu não tinha nem ideia de que que "produção" significava naquele momento. Mas assim que o app subiu para produção e não aparecia mais a palavra "teste" nele, eu percebi que tinha feito merda.
"Gabriel, acho que fiz merda"
"O que?"
"Acho que tirei o app do teste..."
"Porra... bota de volta, ué"
O problema é que eu já tinha tentado botar de voltar e essa possibilidade não existia. Uma vez que o app vai para produção, não dá para voltar para teste.
Decidi tomar uma medida ousada.
Mandei um email para o Google contando do que tinha acontecido e pedindo para voltar para o teste beta.
Não achei foto do email, mas achei a foto que a gente tirou para anexar no email e dar mais peso.
Cara de cão sem dono suplicando por clemência ao Google para tentar reverter a merda que fiz.
Lembra do aprendizado com o André Bona? Você consegue muita coisa nessa vida se apenas pedir.
O Google respondeu no mesmo dia:
"Não tem o que fazer. Depois que muda para a produção não tem volta".
Pois é... Até dá para conseguir muita coisa pedindo, mas nem tudo.
E assim foi o lançamento oficial do Real Valor. 100% sem querer.
Mas dane-se. Focamos em seguir com o plano de botar mais gente para testar, para receber mais feedbacks e melhorar a experiência do usuário.
O desenvolvimento estava num ritmo bom. Nesse momento, eu e o Gabriel já tínhamos nos entendido com o Java e já conseguíamos entregar funcionalidades novas e correção de bugs com certa velocidade.
Estamos falando mais ou menos de maio/junho. "Aprendemos" a programar em 5 ou 6 meses.
O app estava começando a ser elogiando por desconhecidos nos grupos de Facebook.
A gente estava pensando em 3 coisas importantes para o futuro:
Criar o plano premium para começar a monetizar, afinal já eram 6 meses só gastando. Sem entrar 1 real na empresa.
Criar a versão iOS. O marketshare de iphone no nosso publico alvo parecia ser muito maior do que aqueles 10% de marketshare que iOS tinha no brasil que vimos na parte 1.
Entrar na Aceleração da ACE.
Eu estava convencido que tinha um puta app em mãos. Agora era a hora de transformar o Real Valor em uma EMPRESA.
É disso que eu vou falar na parte 5.
Obrigado por ler até aqui! Te vejo quarta que vem as 11:00